"O Sheik" - Prólogo

                                                       PRÓLOGO

Aquele homem podia ser seu pai, o que seria impossível, pois ele estava morto. Demi Lovato tocou com a ponta dos dedos a foto de Billy Ray Cyrus impressa no jornal de Boston, com a co­bertura da última reunião da família Cyrus. O artigo também versava sobre um mistério de anos sobre o sequestro do irmão gêmeo de Billy Ray, Patrick, confirmando o que ela tinha descoberto recentemente ao ler as páginas amareladas do diário da avó, seus queridos avós tinham vivido uma mentira por mais de meio século.

Demi estava na única casa que reconhecia como sua, bem no coração do estado de Montana, enquanto centenas de per­guntas não respondidas assombravam sua mente e afetavam suas memórias. Será que seu pai sabia sobre o diário que havia achado entre os pertences da avó? E teria descoberto sobre a decepção antes de sua morte prematura? Saberia que havia nascido em uma família rica de Massachusetts e havia sido raptado pela mulher que sempre considerara como sua mãe, além de que seu nome não era Timothy, mas sim Patrick Cyrus?

Demi deixou o jornal de lado ciente de que jamais teria todas as respostas que buscava. Todos aqueles que poderiam elucidar alguma coisa já estavam mortos. Os avós tinham falecido, com diferença de meses entre um e outro, havia dois anos, e seus pais tinham morrido num acidente de carro muito grave fazia um ano.

Lidar com a perda devastadora e a novidade em sua árvo­re genealógica teria sido mais fácil se não tivesse terminado o namoro com Wilmer. Se bem que isso tinha sido uma bênção. Era melhor viver sozinha, pois assim seria dona de seus atos.

Wilmer era muito controlador. Ele queria uma esposa que devo­tasse a vida cedendo a seus caprichos, e não alguém que tivesse sonhos e opiniões próprias, além de objetivos profissionais.

Demi se recusou a lamentar o fim do relacionamento. Agora estava com as mãos ao redor da caneca de café, tentando absor­ver um pouco de calor, apesar de o tempo do lado de fora estar quente e lindo. Ainda assim estava gelada até os ossos, mesmo dentro da cozinha confortável com cheiro de canela e uma ra­diação de carinho própria de um lar perfeito.

Mesmo com todo aquele ambiente, sentia-se tremendamen­te sozinha. Conscientizou-se, então, de que não tinha motivos para continuar em Silver Valley. A pequena cidade nada tinha a oferecer além de memórias amargas e a compreensão de que muito do que sabia sobre sua família e seu legado era falso, exceção feita ao amor incondicional dos pais e avós.

Talvez em Boston encontrasse mais oportunidades, uma vida mais animada. Um lugar para se socializar e crescer pro­fissionalmente.

Decidiu então viajar e procurar pela família Cyrus e contar ao tio, Billy Ray, os detalhes que sabia sobre seu irmão desapareci­do, com esperanças de ser recebida de mentes e braços abertos. Encontraria um bom emprego e, quem sabe um dia, abriria seu negócio próprio de decoração de interiores. Construiria uma vida boa para si. Uma vida nova. E, para preencher o espaço vazio em seu coração, tentaria ter um filho, alguém que a amaria sem reservas.

O ano, de fato, não tinha sido exemplar para Demi Lovato, mas a vida seria diferente dali para frente. Faria o que fosse possível para ter sucesso e atingiria todos seus objetivos sem a interferência de um homem.

 BY KAROLINE NUNES