CAPÍTULO
CINCO
Ao abrir os olhos, Demi
sentiu-se perdida no tempo e no espaço. Sabia apenas que se encontrava numa
cama, mas não tinha ideia de como fora parar ali.
Já bem desperta, olhou
para o lado e viu que era meia-noite e meia no relógio digital de cabeceira.
Olhou para o outro lado e deparou-se com uma figura máscula. Joe Saalem, seu marido,
nu de novo.
O luar,
misturado com as luzes dos edifícios de Boston, se infiltrava pelas cortinas e
iluminava a lateral do corpo de Joe, que estava deitado de frente para a
janela. Demi se aproximou e estudou o tórax subindo e descendo numa respiração
cadenciada e a linha da coluna terminando na curva das nádegas.
Ele era um homem
magnífico e estava ao seu dispor. Ou, pelo menos, era o que achava. Quisera ter
feito amor no sofá, só não implorou porque o orgulho a impediu. Sim, estava
cansada, nem imaginava o quanto, mas teria permitido que ele continuasse com
aquela doce tortura.
Além do desejo latente,
sentiu-se tão segura nos braços dele que adormecera. Olhou para baixo e viu que
a camisola estava tão intacta quanto seu desejo, ou melhor, a vontade de conceber,
corrigiu-se. Pensando nisso, estendeu a mão para tocá-lo, retraindo-a em
seguida. Tinha medo de despertá-lo e ser engolida por aquela força máscula que
ele emanava. Sentiu a pele se arrepiar, mas não de medo, e sim de antecipação
por talvez não ser capaz de enfrentar fazer amor com Joe.
Com a
mente repleta de ideias, acabou por tocar as costas dele e sentiu a temperatura
de um vulcão. Nenhuma surpresa, tudo nele a remetia para o fogo capaz de
consumir o controle de uma mulher em questão de segundos.
Joe não se moveu nem
quando ela deslizou a mão por sua coluna, avançando ate as nádegas. Hesitou em
continuar, mas ansiava por sentir a firmeza daqueles músculos. Assim, passou a
mão por ali, descendo até as coxas cabeludas em movimentos gentis. Ao mesmo
tempo em que se sentia como uma criança, moldando com argila, era também uma
mulher desejosa e ousada, que pousou a mão onde a coxa encontrava com a virilha
de Joe. Seu corpo respondeu àquele cruzeiro exploratório, deixando-a úmida.
Ah, como o desejava...
Não via a hora de deleitar-se na sensação de tê-lo dentro de si e derreter-se em
toda sua feminilidade. Embora não fosse por vontade própria, Carl invadiu seus
pensamentos naquele instante. Nunca sentira por ele um décimo do que
experimentava naquele momento. A ideia de Carl de fazer amor resumia-se a
levá-la para a cama uma vez por semana, quer estivessem com vontade ou não. Demi
sempre se sentira usada, insatisfeita, roubada e nunca soubera como dizer isso
a ele. Mas Carl tampouco perguntara.
Forçando-se a tirar o
ex-noivo da cabeça, Demi voltou a atenção para o marido. Mesmo que ele não
acordasse, continuaria com aquela brincadeira sensual, agora traçando pequenas
trilhas com os lábios.
— Vejo que acordou
disposta — disse Joe, virando a cabeça para encará-la.
Para seu espanto, Demi
não ficou envergonhada. Ao contrário, foi invadida por uma estranha sensação
de poder.
— Está
disposta a continuar com a nossa lua de mel?
— Mais
do que nunca.
Virando-se de frente
para ela, Joe passou os dedos pelo vão dos seios fartos, para, em seguida,
estender a mão e ligar o abajur.
— O
que está fazendo?
— Quero
admirá-la sem restrições — disse ele, apoiado nos cotovelos, com uma perna
sobre as dela.
Os cabelos revoltos e
os olhos passeavam sem pressa por cada centímetro de pele de Demi.
Sem inibição alguma e
encantada por ele emanar sexualidade por todos os poros, ela também admirou o
peito forte, a barriga definida, e não tinha visão do resto, embora sentisse
seu membro túrgido em suas coxas.
— Gostaria
que você se despisse para mim.
Demi não tinha intenção
alguma de protestar e começou abaixando uma das alças da camisola.
— Fique
em pé. Assim poderei ver o tecido fino deslizar pelo seu corpo até o chão. Acho
que você também vai gostar.
Demi não tinha tanta certeza.
Jamais havia se despido diante de um homem, nem mesmo de Carl, que preferia
tudo no escuro. No entanto, se ficasse de pé, poderia também observá-lo por
inteiro e testemunhar o efeito que seus movimentos sensuais causariam nele.
Pensando nisso, tirou a colcha e levantou-se.
Joe estudava cada
movimento seu com os olhos brilhantes. Um friozinho correu pela espinha de Demi,
que sentiu as pernas fraquejarem, mas não se intimidou. Com o olhar preso ao
dele, deslizou uma das alças da camisola por um ombro e repetiu o movimento do
outro lado, sem a menor pressa, até deixar o tecido escorregar e desnudar-lhe
os seios fartos. Os mamilos enrijeceram ante o contato com a brisa suave que
entrava por uma fresta da janela. Com um leve movimento dos quadris, deixou que
a camisola continuasse deslizando até o chão e sentiu um arrepio antecipatório
ao notar que Joe estudava cada linha dc seu corpo. Balançou-se lentamente,
invadida por uma sensação de controle absoluto, enquanto via como ele reagia ao
seu bailado da sedução.
Com um
sorriso de lado, afora a excitação evidente, Joe parecia presenciar uma coisa
corriqueira. E talvez fosse mesmo. Mas ela se recusou a pensar em quantas
mulheres já tinham leito strip-tease para ele. Não se importaria com nada,
mesmo porque estava se divertindo também.
— Fui aprovada?
— indagou ela, saindo da poça de seda a seus pés.
Joe se sentou na cama,
sem tirar os olhos dela, que lutava entre a sensação de frio e calor.
— Venha mais perto e
vou mostrar o quanto estou fascinado por você pediu ele, puxando-a para se
encaixar no meio de suas pernas. — Você é muito linda — murmurou.
Sem mais demora, passou
o rosto pelos seios dela, detendo se em cada mamilo para sugá-los com paixão
enquanto ela se oferecia sem reservas, ele a segurava pelos quadris, enquanto
ela apoiava as mãos sobre os ombros largos.
Quando Joe deixou de
beijá-la, ela murmurou um protesto, logo atendido por mais carícias
insinuantes. As mãos experientes viajavam pelas curvas do corpo dela,
detendo-se próximas a lugares mais sensíveis, apenas insinuando que os tocaria.
Demi achou que fosse enlouquecer quando ele se deteve pouco acima de sua
virilha, sem tocá-la, ainda. Parecia divertir-se ao percebê-la com o rosto tão
transfigurado pelo prazer.
— Quer
que eu a toque, Demi?
— Sim
— respondeu ela num suspiro.
Joe acariciou-lhe os
pelos encaracolados para em seguida ocupar-se em explorar o centro do prazer de
Demi, cada recôndito, cada reentrância, brincando com o ponto mais sensível.
Demi estava perdida no
erotismo do momento, enquanto ele a acarinhava com a habilidade de um ladrão,
prestes a roubar uma joia preciosa. Achou que suas pernas não suportariam seu
peso, assim cravou os dedos nos ombros dele ao se sentir próxima ao clímax.
De repente ele se
afastou e Demi gemeu alto. Será que a intenção dele era enlouquecê-la? Se
sugerisse de novo que ela relaxasse, iria socá-lo.
— Ainda
não terminei — assegurou ele. — Quero que você sinta um prazer único. Venha...
Com a ajuda dele, Demi
dobrou os joelhos devagar, deixando que ele a guiasse.
— Relaxe
um pouco.
Relaxar? Como seria
possível naquela posição? E por que aquele pedido absurdo?
— Estou
bem — insistiu ela.
Com os polegares ele a
massageou com mais vigor, sem parar até ouvi-la gritar de prazer.
— Faça
comigo o que quiser. Você está no comando agora.
— O
prazer é todo meu.
E foi de fato. Todos os
objetivos daquela união deserdaram a mente de Demi, conforme ela se entregava
totalmente. Joe a segurava pelo quadril de novo, mas foi ela que imprimiu o
ritmo da dança mais primitiva da humanidade.
Ao mesmo tempo em que
se mexia, ela o segurava no rosto beijando-o ensandecida, deixando que a
língua invadisse a boca dele com uma avidez alucinante. Estava dominada por uma
força e um poder que não compreendia direito quando ele sussurrou:
—
Agora...
Joe a puxou para baixo
num repente, preenchendo-a com a força de seu desejo de um jeito que ela jamais
imaginara possível. Depois de poucas investidas, Demi o sentiu explodir e
tremer inteiro.
Depois,
ele se deixou cair para trás na cama, levando-a consigo. Ele ainda tremia, ou
seria ela? Era impossível dizer, já que faziam parte de uma escultura humana
única.
Os
dois permaneceram naquela posição mais um pouco, antes que ele rolasse para o
lado. Demi achou que ele fosse dizer alguma coisa, mas, em vez disso, ele a
beijou com uma doçura bem diferente dos carinhos incontroláveis de minutos
antes. Aquele beijo foi muito significativo, embora ela ainda não soubesse
decifrá-lo.
Joe a puxou para que
dividissem o mesmo travesseiro e ficassem frente a frente e bem próximos.
Entremeando os dedos no cabelo dela, Joe a fez se sentir protegida e querida
depois de muitos anos. Aquela vulnerabilidade a assustava.
Trocaram confidências
em sussurros. Joe se preocupou se tinha forçado demais, mas ela assegurou que
tudo tinha sido maravilhoso demais, levando-o a sorrir, um sorriso tão tenro
quanto os beijos seguidos.
Uma
fresta de emoção se abriu no coração de Demi, algo que ela estava tão determinada
a proibir. Ela se convenceu de era apenas uma ilusão e que estava feliz por ter
tido um sexo incrível. Ordenou ao coração que permanecesse forte e protegido.
Continuaram abraçados
por um bom tempo, curtindo a sensação malemolente depois de terem feito amor,
perdidos no cio da noite. Joe colocou a perna por entre as dela e começou a
movê-la de um jeito sensual. Logo as sensações represadas e avassaladoras a
dominaram a ponto de se abrir para ele de novo.
Enquanto a penetrava, Joe
a acariciou intimamente, levando-a com ele naquela viagem intergaláctica. Demi
estava totalmente entregue e acreditando que aquele homem misterioso
preencheria o vazio de sua alma.
Depois de atingirem o
ápice do prazer, Joe deixou-se cair sobre ela. Mas Demi não reclamou do peso;
ao contrário, deleitou-se com o roçar da barba dele em seu ombro, embriagou-se
do perfume do prazer. Ele saiu de cima dela muito rápido, mas deixou o braço
sobre seu ventre e o rosto bem próximo. Logo ela ouviu a respiração pausada e
soube que ele tinha adormecido.
Foi então que caiu na
realidade. Ela tinha proporcionado a ele tudo que podia na esperança de
conceber uma criança, e em troca permitiu que ele penetrasse seu corpo e
ameaçasse tomar posse de seu coração. Entendeu que seria impossível não
conceder parte de seu coração por medo. Por isso, decidiu que aquela seria a
única noite de amor que teriam, apesar de saber, bem no íntimo, que talvez não
tivesse forças para manter a promessa.
Bem cedo no dia
seguinte, Joe seguiu até a varanda segurando uma caneca de café e sentimentos
que não saberia explicar. Já previra que passar uma noite com Demi seria
inigualável, mas a experiência tinha superado suas expectativas. No entanto,
não estava preparado para a brecha que se abrira em seu coração.
Não era um homem
temeroso. Já tinha escalado os picos mais altos, conquistado o vasto e
imprevisível mundo dos investimentos, rompido os laços com o pai e deixado o
único lar que conhecera a fim de abrir caminho pelo mundo. Nem se ousaria
apaixonar por outra mulher, alguém que, provavelmente, o abandonaria. Havia
decidido que não disporia de nada além de uma profunda atração por Demi. Não
podia esperar nada dele mesmo ou dela. Sua obrigação deveria se restringir a
gerar um filho e estabelecer uma relação de respeito mútuo, e não amor. Tinha
aprendido a não sucumbir àquelas emoções, apesar de ter se exposto a Demi em
apenas uma noite de um jeito como nunca havia feito nos últimos quinze anos.
Não negava, no entanto, que tinha apreciado a força e paixão de Demi.
Depois de conhecido, o desejo
que compartilhavam tornou-se tão necessário quanto o oxigênio que respiravam.
Nem mesmo a brisa refrescante de Boston acalmou o calor de seu corpo só em
imaginar voltar para a cama com ela. Mal tinha começado a mostrar a ela as
inúmeras maneiras que um homem podia satisfazer uma mulher. Pretendia
apresentar aqueles prazeres aos poucos, isso é, se ela permitisse a
continuação daquele enlace pelos próximos meses, ou anos.
— Estou
de saída.
Joe se virou e viu Demi
à porta, vestida com uma camisa branca, saia preta e o cabelo preso em um
coque. Ficou furioso quando entendeu que ela estava pronta para trabalhar. Colocou
a caneca sobre a mesa e fez um esforço imenso para se controlar.
— Aonde você vai tão
cedo assim?
— Tenho de abrir a
loja, já que Miley está viajando.
— As pessoas costumam
tomar sorvete em vez de café da manhã?
— Servimos também pães,
tortas e café. Temos alguns clientes regulares que entram assim que abrimos as
portas, às sete horas da manhã.
— Presumo que você
sairá mais cedo por chegar a essa hora, não é? — indagou ele, fechando as mãos
em punhos dentro do bolso do roupão.
— Não posso garantir
sem antes consultar os horários do pessoal, mas devo ficar até a noite.
— E depois você virá me
encontrar aqui?
Demi mordiscou o lábio
inferior antes de responder: — Acredito que sim, pelo menos nas próximas duas
noites, enquanto durar meu período fértil.
— Isso
quer dizer que você não tem intenção de morar junto comigo como marido e
mulher?
— Não
tenho certeza. Adoro meu apartamento e não me imagino morando em outro lugar.
— Eu
não me importaria em viver com você.
Demi disfarçou,
desviando o olhar.
— Podemos resolver isso
depois. Preciso ir embora agora para não pegar muito trânsito. Prometi a Miley
tomar conta de tudo em sua ausência.
E não tinha prometido
nada a ele além de ser a mãe de seu filho, e isso o enervou ainda mais.
— E
se você estiver grávida?
— Joe, pretendo
continuar trabalhando na Cyrusssa. Amo o que faço e posso continuar até algumas
semanas antes do nascimento do bebê.
— Minha
opinião não conta?
— Não.
Gosto de ser independente. Não quero ficar em casa sem fazer nada. Se eu
estiver grávida, decidirei o que fazer.
Joe sentiu-se preso
entre a fúria e a frustração, entre o desejo e a determinação.
Mesmo que tentasse
disfarçar, Demi não escondia o fogo da paixão em seus olhos, o que suscitou em Joe
o desejo de raptá-la num abraço tentacular e levá-la para a cama com a única
missão de fazê-la se esquecer de tudo o que não fosse ele. Apesar de toda
aquela ebulição interna, ele conseguiu dizer com toda a calma do mundo:
— Tudo
bem, pode ir, discutiremos os detalhes da nossa vida a dois depois.
— Obrigada
por permitir — disse ela em tom de ironia. — Mas não há o que conversar sobre
meu trabalho.
Mudando de estratégia, Joe
abriu um de seus sorrisos encantadores.
— Será que consigo ao
menos um beijo de despedida? Algo que me faça lembrar você enquanto a noite não
chega?
— Está bem — concordou
ela, com um suspiro. — Acho que um beijo só não fará mal, apesar da pouca
atração que sinto por você nesse momento.
Algo que Joe estava
determinado a dissuadi-la. Com poucos passos, alcançou-a e beijou-a com a força
de sua ira mesclada com desejo.
Demi respondeu da mesma
forma, como no dia que tinha concordado com a proposta de casamento, tentando
provar quem estava de fato no controle. Joe tinha dúvidas quanto àquilo.
Os lábios se uniram
como se fosse a última vez, como se a existência de cada um dependesse do
outro. Ela deixou a bolsa cair e enlaçou-o no pescoço, enquanto ele a segurou
pelas nádegas, fazendo-a sentir como estava pronto para o ato do amor.
Mesmo ciente do desejo
latente de ambos, Demi permitiu apenas um beijo e se afastou. Pegou a bolsa do
chão e concedeu sorriso malicioso.
— Economize energia
para hoje à noite.
— Você vai me deixar
nesse estado?
Demi olhou para baixo e
riu:
— Experimente tomar uma
ducha gelada.
— Isso é um mito, minha
querida, água fria não vai aliviar o que sinto.
— Mesmo
assim, acho que você precisa de tempo para recuperar suas energias depois de
ontem à noite — disse ela, encolhendo os ombros. — Aliás, peça um suco de
laranja. Dizem que ajuda na fertilidade. Vejo você mais tarde.
Assim dizendo, ela se
virou sem dar chances de Joe retrucar.
Havia tanta coisa para
aprenderem um sobre o outro, tanto a resolver. Joe nem consideraria a hipótese
de viverem separados. Afinal de contas, estavam casados. Era verdade que aquela
suíte de hotel nunca se assemelharia a um lar, a não ser na noite anterior,
quando recebeu Demi na cama. A sensação tinha sido a mesma em todos os hotéis
por onde passara naqueles últimos anos.
Não se oporia em morar
com ela, mas um apartamento não teria espaço suficiente para uma criança, o que
deixava apenas uma possibilidade.
Decidido, Joe
atravessou a sala e pegou o telefone. Com sorte, o problema de moradia seria
resolvido naquele dia.
Adorei :)))
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